Sunday, March 22, 2009

O Caso Sean

Não sei se isso é crime ou não é, mas depois de ler esse texto da Cora Ronái, publicado no Segundo Caderno do jornal O Globo do dia 19 de Março, não consegui resistir transcrevê-lo aqui no meu blog, pois traduz TUDO O QUE EU PENSO. Desde o início desse circo de mídia eu venho dizendo coisas muito parecidas em todas as discussões que cairam no meu colo sobre esse assunto. Mas, a Cora Ronái tem o dom da palavra e conseguiu resumir o que eu pensava de forma bem mais clara do que eu jamais conseguiria. Então aqui vai...

"O Caso Sean: assim é se lhe parece
Tenho acompanhado, primeiro pela internet e agora por todos os cantos, a história do Sean, o garoto que vem sendo disputado pelo pai americano e pela família brasileira. E cheguei, finalmente, à minha conclusão definitiva: um bom juiz de vara de família é criatura que, ao morrer, merece ir direto para o céu, sem escala, com todas as mordomias da Primeira Classe! Uma coisa é discutir o caso na mesa de um bar, nas caixas de comentários dos blogs ou mesmo aqui nesta crônica, opinião amplificada porque sai no jornal, mas, ao fim e ao cabo, só isso, uma opinião. Outra, bem diferente, é ter que tomar a decisão real que vai afetar, de forma dramatica, a vida dos envolvidos. Ouve-se um lado, e os fatos são incontestáveis; ouve-se o outro, e é claro que tem toda razão; ouve-se um terceiro e é por aí mesmo; e assim sucessivamente. Pirandello perde.
Como quase todo mundo, acho que o ideal para o garoto seria que o pai americano e a família brasileira entrassem em acordo, e que ele pudesse transitar livremente de um lado para outro, de um país para outro. Ao que tudo indica, Sean não corre maiores riscos nem nos Estados Unidos, nem aqui: afinal, se a briga está acontecendo é, em tese, por excesso, e não falta, de amor.
De qualquer forma, antes de ir adiante, aviso: não sou nada imparcial em relação ao caso. Ao contrário de quase todo mundo, pelo menos nas campanhas histéricas que vejo na internet, torço, e torço muito, para que o menino possa continuar no Brasil. Aqui estão as referências afetivas que lhe restaram da mãe; além disso, entre a família nuclear (pai, mãe, filhos) e a grande família (pai, mãe e filhos, mais tios, primos, avós e quem mais houver) sou sempre por esta. Tenho uma visão latina da vida: quanto mais gente houver em torno de uma criança, sobretudo de uma criança orfã, melhor. Vocês conhecem o provérbio africano, não é? 'É preciso uma aldeia para fazer um homem.' Pois. Acredito nele.
Acho que seria uma barbaridade arrancar do Brasil, sem mais nem menos, um menino que viveu aqui a maior parte da vida, e a sua formação essencial. E acho que talvez tenha sido por isso que, desde o começo, fiquei com um pé atrás em relação ao pai, que logo após a morte da ex-mulher já estava aqui para levar a criança embora, depois de passar anos dem vê-la. Acrescentar ao trauma da perda da mãe a perda da família, da irmã recém-nascida, dos amigos, da escola e da cidade não me pareceu ato de quem tivesse o bem-estar do menino em mente.
Também não sou imparcial porque sou avó, e porque não consigo deixar de me solildarizar com uma mulher que, depois de passar pela dor de perder a filha tão jovem, e de um jeito tão estúpido, agora é ameaçada de perder o neto para um homem que lhe é praticamente um desconhecido. Eu também lutaria pelo meu neto, ora se não.
Tirando isso, há certas coisas que me desagradam profundamente nessa história, a começar pela forma midiática com que o pai passou a se manifestar e a expor o filho ao público, uma vez desaparecida a mulher que poderia contradizê-lo. A essa altura, aliás, uma das principais acusações que lhe faz o lado brasileiro, a de ser um desempregado, já não faz qualquer sentido. Ele virou pai profissional e, quer recupere Sean ou não, certamente escreverá um livro sobre a sua luta, e venderá os direito para o cinema; dará palestras motivacionais muito bem pagas e, como é bonito, receberá convites para fazer anúncios de produtos diversos. Desconfio, ainda, do caráter panfletário com que o caso vem sendo conduzido nos Estados Unidos, dos políticos que estão aproveitando a chance para fazer média com o eleitorado, e da evidente satisfação com que os gringos que nada têm a ver com o caso correm, feito hienas, para os seus quinze minutos de fama.
Mas o que me deixa mesmo indignada é a covardia e a falta de respeito dos ataques feitos à mãe, que morreu e não pode se defender. O que é isso?! Em que mundo estamos?! Fico revoltada com a falsidade dos que se declaram fervorosos defensores da lei, da moral e dos bons costumes, e que não hesitam em julgar e condenar essa moça que, certamente, agiu motivada por puro desespero.
Não conheci a Bruna, mas não acredito nem um pouco no conto de fadas descrito pelo pai. O que eu sei, com certeza, é que uma mulher feliz não larga o marido, mesmo que esteja morando numa cabana sem aquecimento na Sibéria, e que esteja se matando para sustentar a família. Quem acredita nisso consegue acreditar em qualquer coisa, até nas boas intenções de um pais que vem sete vezes ao Brasil e que não vê o filho.
H-e-l-l-o-u?! Se alguém levasse um dos meus filhos para um outro país e eu conseguisse chegar até aquele país, duvido, mas duvido muito, que houvesse força capaz de me impedir de vê-lo. eu acamparia em frente à casa, me deitaria no caminho do ônibus escolar, escalaria o prédio - em suma, faria tal banzé que, mais hora menos hora, alguém teria que tomar conhecimento da coisa. Encontrem os seguranças que a família contratou para amarrar e amordaçar o pai, e aí vamos descobrir se, de fato, alguém o impediu de fazer o que quer que fosse.
Por outro lado, chego a achar comovente a luta de João Paulo Lins e Silva. Conheço muitos pais biológicos que não fariam metade do que está fazendo para ficar com Sean. Seria tão mais simples das de ombros e entregá-lo ao pai biológico! Em ven disso, ele está aguentando o peso de ser transformado em vilão e de ver o nome de sua família no centro de uma campanha sistemática de demolição. É um alvo fácil, o rapaz. É advogado, é rico, é conhecido: pau nele!
Mas eu me pergunto: se ele se chamase João das Couves e fosse marceneiro, professor ou entomologista, de que lado estaria a opinião pública?
Vocês decidem."

Cora, editores do jornal O Globo, se transcrever um texto brilhante como esse for crime, peço que me absolvam do meu crime, pois foi motivado por uma imensa admiração!!!

6 comments:

Gisela Perim said...

OI Mari,
Quanto tempo que não passo por aqui,tô correndo muito nos ultimos tempos,mas hj não vou falar de scrap e sim do Sean!!!Bom ,o Sean estuda na sala da minha sobrinha há 4 anos ,e minha irmã era amiga da Bruna(que era uma fofa mesmo,pessoa que brilhava aonde chegasse),e talvez por isso tenha sido tão curta sua estada aqui.!Mas quero te dizer que o pai sempre foi um aproveitador,ele gosta do dinheiro que o Sean tem de herança,por isso tá fazendo tanta confusão na cabeça do menino,que tá apavorado com medo que te tirem de perto da família dele,acho inclusive complexo ter que dividir a guarda com um cara desses ainda que seja o pai !!
aff..mas este coment tá enorme!!!
Bom ,vamos ver e rezar pra tudo dar certo e ele ficar aqui com o João,com a Kiara e com avó que são o que reconhece como família!!!
Um grande beijo Gisa

Erika said...

Fantástico!! Não li pq, confesso, já estou cheia dessa estória. Mas, com certeza, teria ficado como vc: encantada!
Bjocas

***TATTY* said...

Afff....assino em baixo...
Triste, mas pra mim verdade tb...
BJUS

Lais said...

Nem sempre o papel da justiça é fácil, mas, por vezes, é ainda mais difícil. Nesse caso, além do aspecto jurídico, tem o lado político, 2 países com uma criança no meio. Triste, triste, triste!
Em horas como essa, só nos resta torcer e confiar que alguém lá em cima sabe o que está fazendo.
obrigada, amiga, por compartilhar tudo isso!
Bjs!

Fê Baraldi said...

Aff ... vou avisar sobre este tópico no meu blog pq foi realmente o primeiro artigo que li a respeito do caso Sean de uma forma tão clara. Eu acho mesmo que ele deva ficar com as pessoas que ele reconhece como família ... eu tenho pai e padrasto e posso dizer com todo conhecimento de causa que pai é o que cria ... tomara que a justiça seja feita e a vontade do garoto seja obedecida pq afinal, a pessoa mais afetada será ele.
Que Deus coloque um dedinho nesse caso ...
Mari, super beijo pra vc, para o maridão e para a fofura da Alice ... precisamos marcar um encontro com essas sapecas !!!

Anonymous said...

o Brasil vendeu o menino... o povo acha agora que so pq o esperma era do cara o caro é pai? claro que não.
Ta na cara que o que ele quer é dinheiro mesmo.
Se ele amasse tanto essa criança, assim q recebeu o telefonema da mulher dizendo que não voltaria, teria corrido a policia, dado queixa, pegava o 1° aviao pro Brasil e fazia o maior escandalo aqui querendo o filho.... depois dela morta é facil se fazer de pai amoroso.

vergonha da "justiça" brasileira que vendeu o menino.